Hahnemann - A Medicina e o Científico

Sobre alguns dados biográficos de Samuel Hahnemann estaremos nos fundamentando no belo trabalho da dra. Maisa Lemos Homem de Mello (“Vida e Obra de Samuel Hahnemann – o fundador da Homeopatia”) através de trechos escritos do próprio Hahnemann, refletindo diferentes momentos da sua vida.


Sobre sua formação:
Nasci em 10 de Abril de 1755, em Meissen uma cidade encantadora, situada na foz do Meissa e do Elba, no eleitorado da Saxonia, uma das mais bonitas regiões da Alemanha. É uma das razões do meu grande amor pelas maravilhas da natureza..........”

“Nunca me esqueci de dar ao meu corpo, através do exercício, do movimento e do ar fresco, a alegria e a resistência graças às quais a contínua tensão do espírito se mantém facilmente.”

“Meu pai, Christian, junto com minha mãe Johanna, ensinaram-me a ler e escrever quase como se fosse uma brincadeira. Meu pai embora não fosse um sábio em ciências - era decorador na manufatura de porcelana da cidade - tinha descoberto por si só o que era bom e proveitoso para o homem. Incutiu suas idéias em mim: viver e atuar sem pretensão nem ostentação. Estava sempre presente quando algo bom ia ser feito. Como poderia eu não seguir seus passos? Soube sempre distinguir entre o bem e o mal... Foi meu mestre....Eis aqui definido o verdadeiro fundamento da minha conduta moral.” 

Sobre sua primeira tese, “A maravilhosa conformação da mão humana”, de 1775:

“O homem dotado da inteligência que concebe - homo sapiens - e da mão que executa   - homo faber - deve estar a serviço da bondade do Criador para espalhar suas graças!”

Sobre sua “intuição criativa” (1789/1796)

“Se estou convencido de que meu doente está verdadeiramente melhor sem esses medicamentos... que Deus me ajude! Como poderia eu exercer assim a medicina. Não posso continuar a ser o carrasco dos meus irmãos.”

Os remédios só podem curar doenças análogas àquelas que eles próprios podem produzir”

Sobre a interpretação materialista de Cullen (as p
ropriedades adstringentes e amargas da China provocam a liberação de substância antitérmica – uma visão de oposição, linear e newtoniana) Hahnemann sobrepõe a sua interpretação (a China cura a febre por produzir sintomas semelhantes a ela – visão de não oposição, circular, centro-periférica e fisiológica):

“....A título experimental tomei durante vários dias, duas vezes ao dia, quatro dracmas de pó de quinquina. Os meus pés e a ponta dos meus dedos ficaram frios. Senti-me fraco e sonolento. Em seguida, meu ritmo cardíaco acelerou. Meu pulso tornou-se rápido e nervoso. Intolerável ansiedade, tremores mas sem rigidez, prostração em todos os membros, depois pulsações na cabeça, no coração, nas bochechas, sede. Em suma, todos os sintomas habitualmente associados à febre intermitente. A crise aguda durou de 2 a 3 horas e repetiu-se a cada ingestão da droga.”.....O cortex de quinquina que é utilizado como remédio para a febre intermitente atua porque é capaz de produzir sintomas semelhantes aos da febre intermitente num homem de boa saúde.”   

Sobre o seu novo princípio de cura (1796/1804):
                                                 

“Para encontrar as verdadeiras propriedades medicinais de uma substância nas afecções crônicas, é preciso volver a atenção para a doença artificial específica que esta substância provoca normalmente no organismo, a fim de usá-la no estado patológico análogo que interessa afastar.”.....”Para curar radicalmente certas afecções crônicas, é preciso procurar os remédios que normalmente provocam no organismo uma doença análoga e o mais análoga possível.”  

“Três crianças de uma mesma família foram vítimas de um ataque pernicioso de febre escarlatina. A filha mais velha, que tinha tomado Belladonna por via interna para uma afecção das articulações dos dedos, foi para minha surpresa, a única a escapar ao contágio, embora normalmente fosse a primeira a adoecer . Não hesitei então em dar às outras crianças dessa família numerosa uma dose muito pequena de Belladonna a título preventivo. Repeti a dose 3 dias depois. Nenhuma das crianças apanhou a doença, apesar do contacto com outros contaminados.”

Sobre a revolução homeopática (1804/1811):   

“Será que é mesmo possível acreditar que, no nosso século de Luz, uma obra fundamentada unicamente na experiência, como é o meu Organon da Medicina Racional, seja posta de lado pelas palavras sem sentido da velha escola, enquanto que somente contra-experiências e contra-experimentações a poderiam confirmar ou refutar?”

“A antiga medicina ou Alopatia,....,supõe sempre no tratamento das enfermidades, uma superabundância de sangue (pletora) que jamais existe, outras vezes acrimonias ou matérias mórbidas. Portanto retira o sangue necessário à vida por sangrias e pretende varrer a suposta matéria morbífica ou atraí-la a outro ponto por meio de vomitivos, purgantes, sialagogos, diuréticos, vesicatórios, cautérios, etc. Tenta com isso  diminuir a enfermidade e destruí-la materialmente....”

Sobre a oposição que sofreu em Leipzig (1811/1821):   

“Quando proponho uma substância para ser experimentada, asseguro-me de que não possa representar nenhum risco ao experimentador. Junte ....um pouco de tintura de Helleborus niger que eu próprio preparei.....Misture 1 gota desta tintura em 8 colheres de água e junte alcool para que a mistura se conserve. Tome 1 colher desta mistura de manhã, em jejum, e depois a cada hora e meia, pelo tempo que puder fazê-lo, sem se sentir muito afetado. Se aparecerem sintomas demasiado incômodos, beba algumas gotas de Camphora em água”.   

Poderíamos ficar muito tempo a passar em revista dados relativos à biografia de Hahnemann, mas este não é o nosso objetivo. Nesse ponto julgamos necessário tecer alguns comentários sobre a trajetória filosófica de Hahnemann, como estudioso atento que foi dos principais pensadores, desde Descartes e a fundação do racionalismo, passando pelo empirismo de Hume e “desaguando” na grande síntese levada a efeito por Kant.

Em uma das muitas correspondências entre Von Villers e Hahnemann, Haehl cita o seguinte trecho: “Eu admiro muito Kant, particularmente porque ele traçou as linhas da filosofia e de todo o conhecimento humano, quando a experiência termina” (grifo nosso). Hahnemann demonstra a sua grande admiração pela filosofia kantiana e, a nosso ver, isso foi de vital importância no desenvolvimento do seu pensamento, particularmente no que se refere à superação do empírico, porém sem o despreza-lo.
  
A título de síntese nem precisaríamos dizer o quanto de cartesiano está contido na proposta homeopática (vamos nos servir de guia do “Organon da Arte de Curar”, pois acreditamos que nenhum outro livro expressa melhor os seus principais conceitos). O método é cartesiano, o cuidado com o desenvolvimento da compreensão dos passos necessários para a mais exata e possível abordagem dos casos também o é.

Cabe aqui um comentário: o modelo biomédico, ou alopático, como preferem outros, sempre se arvorou como primordialmente cartesiano; o que nos parece é que esse modelo privilegia o método analítico binário da tese e antítese sem se aperceber que o método cartesiano é, em essência, dialético, o que implicaria na síntese, que parece estar relegada a um outro (não diríamos segundo) plano.

Para o modelo biomédico a análise do parcial, desde que levada a extremos de exatidão, controle, reprodutividade, e outros conceitos semelhantes, é o único caminho que conduz ao conhecimento científico (esse rim que eu vejo, esse coração, esse pulmão, me são totalmente conhecidos posto que perscrutados e analisados com a maior exatidão e melhor técnica possível ... e o Homem morre de parada cardio-respiratória ... afinal, do que morremos todos!). Para nós isso faz parte do reducionismo científico predominante nos dias atuais em muitos círculos da medicina.

Em segundo lugar (e esse tema será melhor abordado mais adiante) Hahnemann parece concordar com Hume quando esse se refere à impossibilidade de se construir  algo que se pretenda científico e racional partindo apenas de uma raiz metafísica, precedente e fundadora desse conhecimento, como Descartes queria. Porém, ao contrário de Hume, Hahnemann acreditava que as coisas (as substâncias) eram possuidoras de uma “essência”, assim como as idéias (ou coisas correspondentes) não se reduziriam a um mero composto de idéias (ou coisas) cada vez mais simples, levando a nada, afinal.

Se para Hume não haveria uma relação necessária, por exemplo, de causa e efeito entre as coisas, para Hahnemann esse era o ponto fundamental. Porém, e isso nos parece brilhante, ele “concorda” com Hume no que diz respeito à demonstração dos fatos, afigurando-se essa demonstração impossível fora do âmbito da experimentação (prescindindo, nesse ponto, portanto, de uma fundamentação apenas puramente lógica). A palavra “apenas” é de enorme importância, pois jamais Hahnemann desprezará a fundamentação lógica; o que ele enfatiza é a precedência da experimentação.

E finalmente, como Kant (do qual Hahnemann foi um atento leitor, como já dissemos), as coisas (ou substâncias) são vistas por Hahnemann como essências à espera de sua descoberta, ou, melhor dizendo, do desvelamento de suas propriedades inerentes. Mas sua postura é também idealista, pois ao mesmo tempo em que as coisas estariam apenas “disponíveis” na natureza, na medida em que “são tocadas” pelo Homem elas passam a revelar as suas próprias dimensões no caminho do desvelamento, ou melhor, no caminho do conhecimento que propicia o entendimento da cura. A posição hahnemaniana, como dialética que é, representa a razão como fonte do conhecimento (posição diríamos racionalista), porém sustentada pela experimentação (posição empírica) através da qual o seu sentido racional se concretiza.

Nesse ponto acreditamos que já podemos expor a nossa idéia, deixada em suspenso no artigo precedente (“Paracelso – A Medicina e o Metafísico”), acerca da “omissão”, nos textos hahnemanianos, de qualquer citação a respeito do pensamento de Paracelso. Gaston Bachelard, filósofo da ciência, em seu livro “A Epistemologia” nos oferece uma “pista” ao propor a idéia de que a Alquimia jamais poderia se transformar em química (vale dizer, se transformar em ciência) a não ser por uma “superação” do que ele denomina obstáculo epistemológico (e que outros filósofos da ciência preferem denominar diferenças de paradigmas e que nós, numa leitura foucaultiana, preferimos chamar de impossibilidade delimitada do conhecimento).
“O alquimista pretendia que sua “ciência” fosse difícil e rara. Pretendia resolver um grande problema: penetrar no Grande Mistério. Descobrir a Palavra do Enigma ter-lhe-ia dado a onipotência sobre o mundo” (Bachelard – “A Epistemologia” )

Segundo Bachelard, “descobrir a palavra do enigma” seria penetrar, sozinho e incomunicável, nos recessos secretos das substâncias, pois as suas propriedades apenas se “desvelariam” a quem “pudesse” enxerga-las (Paracelso: “enxergar o invisível no visível”). Era o reino da impenetrabilidade, o qual a química, enquanto ciência, procuraria analisar e resolver. Eis a grande questão: Hahnemann, enquanto um pensador essencialmente científico, jamais poderia pensar como Paracelso (impossibilidade de conhecer como Paracelso, não por menor capacidade intelectual, mas por impossibilidade epistemológica de pensar); ademais, a ciência pressupõe a universalização do conhecimento, ao contrário da proposta alquímica de se perscrutar a natureza silenciosamente em busca dos seus mistérios. Hahnemann também quer apreender o invisível que se “esconde” por detrás do visível. Mas ele procurará isso com o método racional, sustentado por observações empíricas, delimitando o que se procura, porém permitindo que outros, como ele, também possam entender como tudo ademais funciona.

A busca pelo “símile” em Hahnemann é uma busca científica (o nome da primeira versão do Organon, publicada em 1810 era “Organon da Ciência Médica Racional” que, a partir de 1819 passaria a se denominar “Organon da Arte de Curar”). O “símile” em Paracelso é o que poderíamos denominar uma “Teoria das Assinaturas” ... o invisível (poder curativo) se “manifestando” como que imprimindo, através do visível (substância medicamentosa) a sua marca, que deve ser capturada pelo olhar atento e “iniciado” de quem a procura. Hahnemann acrescenta a isso: pelo caminho da razão, inerente a todo e qualquer ser humano, caminho esse que exige estar armado com o instrumental próprio da razão e não mais do que isso. Afinal, a Homeopatia, vista por Hahnemann, como ruptura em relação a aquilo que se definia em sua época como ciência, deveria ser um conhecimento racional e para todos.

“§ 3 - Se o médico percebe claramente o que há para ser curado nas doenças, isto é, em cada caso individual de doença (conhecimento da doença, indicação),  se ele claramente percebe o que é curativo nos medicamentos, isto é, em cada medicamento em particular (conhecimento das virtudes medicinais), e se sabe adaptar, de acordo com princípios bem definidos, o que é curativo nos medicamentos, ao que considerou indubitavelmente patológico no paciente, de tal maneira que a cura deva sobrevir; se sabe adapta-lo  tanto a respeito da conveniência do medicamento mais apropriado quanto ao seu modo de ação no caso de que se trata (escolha do remédio, medicamento indicado), como a respeito da maneira exata da sua preparação e quantidade (dose certa), e do período apropriado de sua repetição; se, finalmente, conhece os obstáculos ao restabelecimento em cada caso, e sabe remove-los de modo que a cura seja durável, então ele saberá agir de maneira racional e profunda, e então ele será um verdadeiro médico.” (Hahnemann – “Organon da Arte de Curar”)

E Hahnemann é ainda mais enfático:
“§ 6 – O observador  sem preconceitos – sabendo da futilidade de argumentações metafísicas, que a experiência não pode confirmar – nada percebe, mesmo sendo o mais arguto, em qualquer doença individual, senão alterações reconhecíveis externamente pelos sentidos do corpo e da alma, sinais mórbidos, acidentes, sintomas, isto é, perturbações do antigo estado são do atual doente, os quais este mesmo sente, as pessoas do seu ambiente percebem e o próprio médico nele observa. Todos esses sinais perceptíveis representam a doença em toda a sua extensão, isto é, formam, juntos, o quadro verdadeiro e único que se pode imaginar da doença.”  (Hahnemann – “Organon da Arte de Curar”)

Na nota que se segue a esse aforismo, Hahnemann deixa mais evidente ainda, a nosso ver, sua posição, digamos “kantiana” de, na esfera da Razão Pura, abdicar da tentativa de se “penetrar” na essencialidade da própria doença, reconhecendo nela (a doença em sí), no entanto, o a priori fundamental para a compreensão da doença mesma.

“Nas doenças, o que se manifesta aos sentidos pelos sintomas não é para o médico a própria doença, visto que ele nunca pode ver a doença latente, o ser imaterial que produz a doença, a força vital? Nem é necessário que ele a veja, mas somente os seus efeitos mórbidos, para assim poder curar a doença. Que mais pretende a velha escola procurar no interior recôndito do organismo como prima causa morbi, enquanto que rejeita, como objeto de cura, e desdenha, com falso orgulho, a representação sensível e óbvia da doença, os sintomas que se nos apresentam tão claramente? Que mais ele quer curar nas doenças senão isso?  (Hahnemann – “Organon da Arte de Curar”)

Entretanto o status de ciência que Hahnemann ambicionou ao criar a Homeopatia pouco tem a ver com uma visão, digamos positivista e puramente analítica dos fatos e, portanto, muitas vezes reducionista e parcial das coisas, ou seja a proposta hahnemaniana, vista como uma proposta dialética, vitalista e totalizante,  a aproxima do que poderíamos chamar de medicina sintética, aos moldes da medicina hipocrática, agora fundamentada pelos preceitos da razão. Daí, a nosso ver, a mudança do título de sua principal obra: de “Organon da Ciência Médica Racional” para “Organon da Arte de Curar”. A mudança parece sutil, mas envolve um diferencial que, ainda hoje, serve de base para todos os ataques que a Homeopatia sofre da ciência biomédica predominante. Essa diferença sutil diz respeito a aquilo que a “fria” observância do método homeopático isoladamente não consegue revelar e que nós poderíamos chamar de uma visão generalizante associada a uma estreita parceria entre médico e paciente na busca do equilíbrio para o processo de cura, o que envolveria grandes doses de intuição e saber, portanto arte.

Cabe agora discutirmos, e esse é o nosso objetivo primordial agora, o caráter científico da Teoria Homeopática à luz das proposições atuais da filosofia da ciência e, para tanto julgamos necessário tecer alguns comentários acerca das duas abordagens predominantes que, como veremos, nada tem a ver com a estéril discussão entre “unicistas”, “pluralistas”, “complexistas”, etc... Para tanto, nos utilizaremos intensivamente do excelente texto “A Questão da Cientificidade da Homeopatia”, do filósofo e professor da Unicamp, Silvio Seno Chibeni.

 A distinção mais importante para o estudo epistemológico das teorias científicas é aquela que ocorre entre as chamadas teorias construtivas e as teorias fenomenológicas. Essa diferenciação diz respeito não apenas à natureza das proposições da teoria, mas também ao tipo de explicação que elas fornecem para os fenômenos.

Classificam-se como Teorias Fenomenológicas aquelas cujas proposições se refiram exclusivamente a propriedades e relações empiricamente acessíveis entre os fenômenos. Essas proposições descrevem, conectam e integram os fenômenos, permitindo a dedução de conseqüências empiricamente observáveis. Exemplos importantes de teorias fenomenológicas são a termodinâmica, a teoria da relatividade especial e a teoria da seleção natural de Darwin.

Em contraste com as teorias fenomenológicas, as Teorias Construtivas envolvem proposições referentes a “sistemas” e processos inacessíveis à observação direta, que são postulados com o objetivo de explicar os fenômenos por sua “construção” a partir dessa suposta estrutura fundamental subjacente. Exemplos característicos desse tipo de teoria são a mecânica quântica, a mecânica estatística, o eletromagnetismo e a genética molecular.
É importante observar que essas duas categorias de teoria não são conflitantes, no sentido de que é possível que um mesmo conjunto de fenômenos seja tratado por duas teorias, uma fenomenológica e outra construtiva; nesse caso, a última vai além da primeira no nível explicativo, desse modo complementando-a.

Hahnemann dispõe, no “Organon”, esses dois enfoques, ou seja, ele desenvolve a sua proposta homeopática em termos fenomenológicos e construtivos, este último tendo como conceito central o de princípio ou força vital.

Em nossa leitura do “Organon”, como já mencionamos anteriormente, chamou-nos a atenção a ênfase com que Hahnemann defende, em muitas ocasiões, a precedência e mesmo a suficiência de uma abordagem puramente fenomenológica dos processos patológicos e terapêuticos. Associamos, como visto anteriormente, tal postura à vertente empirista da filosofia, em especial ao empirismo cético de David Hume, vertente essa que se fez acompanhar, desde o início, por crescente aversão às especulações metafísicas. Essa aversão é também identificável, explícita ou implicitamente, em todo o “Organon”, como também vimos através das citações que destacamos anteriormente.

Analisaremos mais à frente essa, a nosso ver, complexa postura de Hahnemann, marcada pela tensão entre uma posição puramente fenomenológica e a defesa de uma teoria como a do princípio vital. Focaremos por ora nosso exame aos princípios de natureza fenomenológica da homeopatia. Ressaltamos, porém, que essa desvinculação dos dois níveis teóricos da homeopatia não se encontra com clareza no “Organon” e que esse seja, talvez, o grande desafio deixado por Hahnemann para seus seguidores, qual seja uma resolução científica e consistente para esse impasse.

Entretanto, como também já salientamos, Hahnemann, também fortemente influenciado por Kant, embora tenha restringido o conhecimento (ao nível da Razão Pura) ao mundo dos fenômenos devidamente fundamentado pelas categorias a priori do conhecimento, havia deixado, para o nível da Razão Prática, o saber daquilo que estaria constituído através e além do fenomênico. No fundo é sobre essa dicotomia que estamos falando quando classificamos uma teoria como Fenomenológica ou Construtiva.

Enquanto restritos à “porção” fenomenológica da Homeopatia, portanto, sem levar em conta a proposta hahnemaniana de defesa de uma teoria como a do princípio vital, que notoriamente extrapola o nível empírico, poderíamos esquematizar, como faz Chibeni, a partir do modelo de programa científico, proposto pelo filósofo da ciência Imre Lakatos, os princípios homeopáticos: onde o Núcleo Rígido representa a essência do programa homeopático desenvolvido em torno de sua lei fundamental (a chamada Lei da Cura), e o seu Cinturão protetor consistindo de diversas leis auxiliares, expostas de modo claro no Organon, com um caráter mais ou menos fundamental, dependendo do enfoque dado por cada analista em particular.

Devemos ainda observar que a fronteira entre as leis do núcleo e as do cinturão não é absoluta ou completamente nítida. Assim, ao longo do desenvolvimento do programa certas leis que no princípio podem ser consideradas como secundárias, eventualmente podem mostrar-se mais fundamentais, ou vice-versa. Notemos, por fim, que todos os princípios enumerados são de ordem fenomenológica.

Acreditamos que não seja relevante nem necessário fundamentarmos os conceitos, expostos no esquema acima, através de citações contidas no “Organon”, pois essa nos parece ser a parte menos controversa da homeopatia, razoavelmente aceita sem grandes discussões entre os pesquisadores e cientistas que a analisam. Na parte seguinte de nosso ensaio passaremos a discutir os conceitos mais polêmicos, quais sejam aqueles que se encontram interligados com a “porção construtiva” da proposta hahnemaniana.

Nossa primeira impressão, como já salientado, dos aforismos contidos na seção 5 do “Organon” parece sugerir que a postura de Hahnemann diante da tarefa da elaboração de uma teoria homeopática construtiva oscilava entre um certo grau de desinteresse e, por vezes, até o desdém. Tal atitude parece-nos firmada em um certo ceticismo anti-realista, presente em boa parte do seu texto, já que as entidades e mecanismos envolvidos numa tal teoria, por princípio, escapariam à possibilidade de verificação empírica direta.
Evidentemente, o compromisso de Hahnemann com essa visão filosófica coloca-nos diante do difícil problema de entender por que ele próprio buscou elaborar uma teoria construtiva para a homeopatia, e isso na mesma época e nos mesmos textos em que tentou explicitar tal compromisso.

A análise dessa questão envolveria outro tipo de investigação, quer seja histórica, metodológica ou mesmo filosófica, o que fugiria ao escopo deste trabalho. Apenas mencionamos, a título de especulação, que parece haver uma ligação entre a crítica anti-realista de Hahnemann e seu enorme descontentamento com as teorias médicas de seu tempo, que de um modo ou de outro remetiam a entidades extra-sensíveis. Todavia, mesmo que essa sugerida ligação se possa de fato fundamentar, permanece sem explicação a tensão filosófica objetiva que constitui o cerne do problema em foco.

É importante notar, porém, que mesmo que se conclua pela impossibilidade de uma solução satisfatória para esse problema ¾ o que indicaria uma inconsistência filosófica no pensamento hahnemanniano  ¾  não ficaria por isso comprometida a consistência filosófica e a legitimidade científica das teorias homeopáticas assim desenvolvidas, tanto a fenomenológica como a construtiva. Conforme vimos anteriormente, não há nada errado, tanto do ponto de vista filosófico como do científico, em se defender ao mesmo tempo: a) a autonomia e a primazia de uma teoria puramente fenomenológica para um dado domínio do conhecimento; e b) a conveniência da complementação dessa teoria por uma teoria construtiva.

É evidente que Hahnemann, no entanto, manteve essas posições, e agiu de acordo com elas, muitas vezes em aparente contradição às suas próprias manifestações. Parece que estamos aqui diante de mais uma situação na qual se aplica a famosa regra historiográfica de Einstein, que recomenda que, se quisermos aprender algo sobre um determinado cientista não devemos examinar o que ele diz que faz, mas o que ele faz efetivamente.

A primeira e grande premissa da teoria construtiva hahnemaniana da homeopatia (o seu Núcleo Rígido) define-se, como já frisamos, através do conceito básico de força ou princípio vital. No Organon, a primeira menção da força vital ocorre na nota ao parágrafo 6. Paradoxalmente, é justamente neste parágrafo que o autor repudia as “especulações metafísicas” sobre os processos patológicos não apreendidos pelos sentidos, inclusive ressalvando que “a totalidade [dos] sinais perceptíveis representa a extensão completa da doença; em seu conjunto, constituem sua forma verdadeira, e única concebível”. Vem então a nota. Após o seu trecho inicial, surge esta afirmação:

“No que diz respeito ao médico, não é o que se revela aos sentidos como sintomas a doença ela mesma? Ele nunca pode ver o elemento imaterial, a força vital que causa a doença. Ele não precisa vê-la; para curar necessita apenas ver e entender seus efeitos mórbidos”.

Essa passagem é particularmente importante. Primeiro, a afirmação do parágrafo sobre a verdadeira e única forma concebível da doença como sendo constituída pelo conjunto dos sintomas é enfraquecida e relativizada ao “que diz respeito ao médico”. Essa é uma alteração fundamental. Depois, evoca-se uma entidade explicitamente dada como em princípio não-perceptível, para desempenhar um papel-chave na teoria médica, a saber o da causa das doenças. Como se sabe, tal entidade ¾ a força ou princípio vital  ¾ comparece, a partir desse parágrafo, em todo o restante do Organon, apesar da reiteração aqui e ali da crítica de que já tratamos.

Conforme podemos verificar nos parágrafos 9, 10 e 15, a força vital é entendida como aquilo que “dá vida” (10, 15), “anima” (9), “mantém” o organismo material humano (10); que “mantém as sensações e atividades do organismo em harmonia” (9); que desempenha um papel essencial na percepção e nas ações do corpo (10).

Essas funções, que Hahnemann atribui ao princípio vital, haviam sido, em diferentes fases da história da civilização ocidental, atribuídas à própria alma humana. Mas Hahnemann concebe a alma ou espírito como o ser pensante que habita o corpo (ver, por exemplo, o parágrafo 9), distinto, portanto, do princípio vital. Quando diz que o princípio vital não é material não se deve pois concluir ¾ como fariam os dualistas ¾ que é espiritual. Note-se que Hahnemann nunca faz tal inferência; o que ele diz é que o princípio vital é “como-espírito”, o que é diferente de ser espiritual.

Quanto à possibilidade do nosso conhecimento do princípio vital, Hahnemann mantém que se trata de algo inapreensível pelos sentidos, e que só se dá a conhecer “por seus efeitos sobre o organismo”. Com essa comparação Hahnemann se propõe a elucidar duas características fundamentais da força vital: a) Ela só se faz conhecer por seus efeitos; b) Ela não é uma ação material ou mecânica. Do ponto de vista da ciência médica, o que há de mais relevante no conceito de força vital é o seu papel na gênese e tratamento das enfermidades. Hahnemann situa a causa das doenças no desajuste ou desarmonia da força vital, conforme sugere o já citado trecho da nota ao parágrafo 6.

Quanto à terapia, Hahnemann mantém, coerentemente com sua visão das enfermidades, que o restabelecimento da saúde não pode ser alcançado senão por uma ação sobre a força vital desajustada. Ademais, tal ação tem de ser “dinâmica”, e não química, mecânica, material.
Assim, a força como-espírito das substâncias medicinais é “liberada” através do processo de potencialização, permanecendo de algum modo “retida” no medicamento. Ao entrar em contato com o organismo vivo, essa força age sobre a força vital que o anima, e sua ação se faz sentir em toda a sua extensão. No parágrafo 16, Hahnemann é mais específico, e diz que é o tecido nervoso em particular que “sente” a ação da força como-espírito do medicamento:
“O médico pode remover tais desajustes patológicos (doenças) somente agindo sobre a nossa força vital como-espírito com remédios que possuam efeitos igualmente dinâmicos, como-espírito, que sejam percebidos pela sensibilidade nervosa presente em todas as partes do organismo”.

Mais um princípio importante é exposto no parágrafo 17:
“A cura, que é a eliminação de todos os sinais e sintomas perceptíveis da doença, significa também a remoção das modificações internas da força vital que estão por detrás deles: desse modo a doença completa terá sido destruída. Conseqüentemente, o médico tem apenas que eliminar a totalidade dos sintomas para remover simultaneamente a alteração interna, o desajuste patológico do princípio vital, por esse meio removendo e aniquilando a própria doença”.

Esse princípio, segundo o qual a eliminação da totalidade dos sintomas significa a eliminação do distúrbio da força vital, parece decorrer da parte da teoria já firmada até aqui. Se não existem os efeitos, não existe a causa, pois se ela existisse, continuaria produzindo os efeitos. Note-se também que isso explica, dentro do contexto da teoria construtiva em análise, a própria possibilidade da ação do médico. Efetivamente, não tendo acesso direto à força vital por nenhum meio racional ou empírico, o médico nunca seria capaz de atuar sobre ela para promover o seu reajuste se não lhe bastasse para tanto descobrir empiricamente, e empregar, os meios que levam à erradicação dos sintomas, efeitos do seu desajuste.
Finalmente devemos citar a importante e intrigante explicação proposta por Hahnemann de como os remédios operam a cura, ou seja, de como funciona a lei básica do núcleo fenomenológico da homeopatia. Essa explicação encontra-se exposta nos parágrafos 29, 34, 45, 69, 148 e 155, entre outros.

Não podemos deixar de observar que, antes de iniciar a exposição dessa explicação, Hahnemann adverte, no princípio do parágrafo 28 que esse tipo de explicação é “de pouca importância”, e que ele vê “pouco valor em tentar alguma”. É ainda digno de nota que imediatamente após essas palavras Hahnemann acrescente: “No entanto, a [explicação] que se vai seguir mostra-se como a mais provável, porque se funda na experiência”. Ora, como a explicação proposta envolve incursões extensas além do nível empírico, deve-se entender essa assertiva de Hahnemann apenas no sentido de que a teoria formulada é empiricamente adequada, ou seja, dá conta dos fenômenos.

De uma maneira sucinta a explicação é a seguinte: A força vital como-espírito da substância medicinal, que produz na pessoa sã sintomas similares aos do enfermo, produz neste último uma doença artificial semelhante à sua doença natural. Sendo mais forte, a primeira sobrepuja a segunda, que então não mais é sentida pela força vital do doente, e, portanto, deixa de existir para ela. Resta então a doença artificial; mas esta é de curta duração, e logo desaparece por si mesma, do que resulta a condição saudável para o paciente. Em complemento o parágrafo 34 enfatiza a necessidade de a doença artificial possuir “a maior semelhança possível com a doença natural em tratamento”.

O parágrafo 69 é destinado a explicar, em termos da teoria construtiva da homeopatia, o fato empírico (ver § 23) da inoperância e efeitos negativos do tratamento alopático. Para nós interessa agora mais particularmente o que se lê na nota (a) desse parágrafo:
“Em pessoas vivas, sensações conflitantes ou opostas não são definitivamente neutralizadas como podem neutralizar-se substâncias com propriedades opostas no laboratório de química, onde, por exemplo, ácido sulfúrico e potassa se unem para formar um composto inteiramente diferente, um sal neutro, que não é nem inteiramente alcalino, nem ácido, e que mesmo no fogo não se separa novamente. Conforme dissemos, essas fusões perfeitas que produzem algo novo e estável nunca têm lugar em nosso aparelho sensório, nele dissolvendo impressões dinâmicas opostas. Há apenas uma aparência de neutralização e aniquilação mútua durante um certo tempo; as sensações antagônicas não se cancelam uma à outra permanentemente”.

Vejamos agora a reapresentação feita no parágrafo 148 da teoria em análise:
“A doença natural nunca deve ser tida como uma substância nociva residindo em algum lugar dentro ou fora do homem, mas como algo produzido por um poder hostil como-espírito que, como que por um tipo de infecção, perturba o princípio vital como-espírito em seu controle instintivo de todo o organismo, atormenta-o como um mau espírito, e força-o a produzir no fluxo da vida dores e desordens particulares chamadas doenças (sintomas)”.

“Se se faz o princípio vital parar de sentir a ação desse agente hostil que luta para causar e perpetuar a desordem, i.e., se o médico age no paciente com um agente patogênico artificial (remédio homeopático) que possa desajustar patologicamente o princípio vital do modo mais semelhante possível [do que o faz o agente patogênico natural], e que mesmo na menor das doses é sempre mais enérgico que a doença natural similar, então durante a ação dessa doença artificial semelhante e mais forte, aquele sentimento do agente patogênico natural torna-se perdido para o princípio vital; desse momento em diante, o problema não mais existe para ele, e está aniquilado”.

E, por fim, encontramos no parágrafo 155 este trecho:
“Quando esse remédio homeopático mais apropriado é usado, somente os sintomas medicinais do remédio que correspondem aos sintomas da doença [natural] agem; eles suplantam estes últimos (que são mais fracos) no organismo, i.e., na sensação do princípio vital, e os aniquilam por os excederem”.

Parece evidente que, mesmo em uma avaliação tão sucinta, podemos perceber a natureza de alguns problemas no que se refere à teoria construtiva proposta por Hahnemann para a homeopatia. Mas o que expusemos até aqui já possibilita a visualização dos elementos centrais dessa teoria, que, como já frisamos várias vezes, não entra em conflito com a teoria fenomenológica, embora tenhamos alguma dificuldade em estabelecer com clareza, usando a terminologia lakatosiana, as hipóteses que poderiam compor um sólido “cinturão protetor” do seu “núcleo rígido”.

Como conclusões de caráter filosófico podemos destacar:
1. Trata-se de uma teoria bem articulada, que cobre o conjunto das leis fenomenológicas básicas (Hahnemann desenvolve as explicações construtivas ao mesmo tempo em que apresenta e analisa as leis fenomenológicas).

2. É uma teoria qualitativa. Ademais, se tomarmos por certo o princípio que Hahnemann apresenta na nota “c do parágrafo 269, ou seja, que os medicamentos homeopáticos não agem sobre coisas sem vida, não será possível torná-la quantitativa, já que os instrumentos de medida, não tendo vida, não poderão nunca detectar e medir o elemento como-espírito dos medicamentos e dos organismos. É exatamente sobre esse ponto que se debruça a maior parte dos ataques que a Homeopatia sofre.

3. As leis básicas dessa teoria conflitam de modo claro com as leis e visão do mundo da físico-química clássica. Aliás, muitos pesquisadores da homeopatia parecem tentar associa-la aos princípios da física quântica. Não sabemos ao certo se essa tentativa pode gerar algum tipo de progresso no seu programa de pesquisa. Acreditamos que um maior esforço no sentido de se encontrar uma maior consistência de sua parte construtiva geraria maiores frutos.

4. Muitas das inferências feitas ao longo da elaboração da teoria baseiam-se em comparações e analogias. Evidentemente, isso introduz uma certa vagueza em vários pontos da teoria, particularmente na sua porção construtiva.

Devemos salientar, porém, que o recurso a analogias não é por si só ilegítimo em uma etapa de elaboração de uma teoria científica. O que queremos dizer com isso e, temos certeza, Hahnemann também o corroboraria, é que o seu programa de pesquisa deveria ser assumido como “em construção” e não como “um todo acabado e sólido”, não necessitando, portanto de uma continuidade no seu desenvolvimento. Ao contrário, a maioria das posturas que encontramos nos textos homeopáticos de seus seguidores foram sempre de “não refutabilidade” quase que absoluta, o que não é nada salutar para o avanço da própria teoria homeopática.

5. E, a nosso ver mais fundamental:
Hume já havia descrito uma complicação adicional (que para ele estaria na própria rota do conhecimento humano): ela se da quando a investigação sobre a relação de causa e efeito mostra que o seu conhecimento não é de natureza racional (o efeito não é uma conseqüência lógica da causa), e nem tampouco a experiência pode conferir certeza a seu respeito, ou seja, não podemos justificar empiricamente as inferências causais. Desse modo tudo o que a experiência mostraria é que nos casos passados fenômenos de tais tipos sempre sucederam fenômenos de tal outro. Mas não haveria a garantia de que as ocorrências futuras de fenômenos do primeiro tipo serão seguidas de ocorrências de fenômenos do segundo tipo.

Ora, parece-nos que fica então claro por que existe uma dificuldade extra no caso do conhecimento das proposições sobre coisas e eventos não-observáveis: em tal caso não podemos nem mesmo experimentar a conjunção constante entre fenômenos que nos leve a postular um como a causa do outro. Não podemos, por exemplo, observar o fluxo de elétrons em um fio sendo sempre seguido de certos fenômenos (choque, desvio da agulha de uma bússola colocada em sua proximidade, etc.) para darmos tal fluxo eletrônico como sendo a causa desses fenômenos.

Se no caso das relações causais entre fenômenos temos dificuldades para justificá-las, tendo que nos fiar na simples regularidade passada, quando um dos membros (ou ambos) da relação não é um fenômeno, ou seja, quando não é algo que nos aparece aos sentidos, não dispomos nem mesmo dessa conjunção habitual. A relação terá então um caráter ainda mais hipotético. Seu uso na ciência só se justificará por processos bastante indiretos. Por exemplo, podemos constatar que a hipótese da existência do fluxo de elétrons no fio representa um meio eficiente e simples de explicar tais e tais fenômenos, que essa hipótese é compatível com outras que já havíamos aceitado, que se encontra inserida em uma teoria abrangente e coerente, etc. A nosso ver, é isso o que a maioria dos pesquisadores em homeopatia faz. Será que, como filósofos, estamos sendo muito ácidos?

O que queremos dizer, e isso não invalida ou torna não científica a proposta hahnemaniana da homeopatia, é que a sua porção construtiva apresenta dificuldades de ordem epistemológica; elas não são exclusividade dessa teoria, incidindo igualmente sobre todas as teorias do tipo construtivo, o que naturalmente inclui grande parte de nossas mais importantes e estimadas teorias científicas atuais.

E será sobre uma proposta atual de discussão absolutamente mais abrangente sobre esse assunto o que nos proporemos a fazer no próximo artigo, que tratará da abordagem sistêmica desenvolvida pelo prof. Romeu Carillo Junior.

Um comentário:

  1. Muito obrigada por esta contribuição, sou terapeuta homeopata, e estudiosa da homeopatia e gostei muito do desenvolvimento do artigo e das questões e observações que coloca. Guardei para ler mais uma vez e estuda-lo mais a fundo.

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